As representações que os agentes ligados a um determinado lugar fazem sobre como são os lugares em que vivem “os outros” revelam muito das relações hierárquicas existentes
dentro do mundo social; em outras palavras, ao falarem do que imaginam ser o lugar em que vivem esses outros, os enunciadores revelam também o que imaginam ser o lugar de onde eles próprios falam. O Marquês do Lavradio apresentava a experiência de viver no Rio de Janeiro como padrão de civilidade para o rebelde interior da Capitania. Por sua vez, em carta destinada à sua irmã, Luiz Joaquim dos Santos Marrocos, o ajudante da
biblioteca do rei, descrevia a cidade do Rio de Janeiro como o pior dos mundos, habitada por uma gente indigníssima, sem decência e decoro, muito aquém da civilidade portuguesa. Como se vê, o ponto em comum entre essas e outras narrativas de distinção dos lugares era o fato de a barbaridade estar sempre no lugar em que vivem os